segunda-feira, 6 de julho de 2009

O vicio besta da completude


Completude, segundo o dicionário Michaelis completude é o estado daquilo que se encontra completo, tendo seu antônimo na palavra incompleto.
Essa tarde vendo um casal de namorados em um banco da praça trocando afagos, e juras me peguei pensando no sentido de completude.
Se analisarmos biologicamente falando, apenas em um estagio da vida se esta completamente ligado em estado de simbiose com outro ser, e isso se dá no estado fetal. Dentro do corpo da progenitora, envolvidos por fluidos, proteínas e calor do corpo materno, tendo como percepção do mundo exterior apenas as sensações proporcionadas pela mesma. Arrisco dizer que naquele exato momento de nossas existências somos criaturas perfeitamente completas.
Mas o que isso tem haver com o casalzinho de namorados?!. Pense no bebezinho, dentro de seu mundo único, sendo expelido contra sua vontade para um mundo de sons, luz e texturas totalmente desconhecidas, e em sua fúria, utilizando-se da única arma que possue para fazer jus ao seu desejo de permanência com o outro ser. Seu choro, sua indignação externalizada. Naquele exato momento nasce em nós como indivíduos humanos a síndrome que nenhuma das ciências humanas conseguiu solucionar: a síndrome do paraíso perdido.
Daquele momento em diante, nos procuramos avidamente por algo que nos complete, tentado suprir o eu foi brutalmente tirado de nós.
E procuramos isso nas mais variadas formas e teores possíveis, em relações humanas, esporte, musica, artes, religião, o desejo de completar-se ruge dentro de nos, o anseio por nos sentirmos novamente uma unidade perfeita.
Agora observe o jovem casal, trocando suas promessas de amor eternas, embriagadas de paixão. Mal compreendem o real significado da paixão que tão afoitamente declaram sentir. O contexto de paixão na sua origem grega passio, significa sofrimento, daí vem a famosa expressão paixão de cristo, sofrimento de cristo, passio é sofrimento, paixão é sofrer, uma antítese bem gritante em relação a conotação que se da hoje, de paixão, amor extremo, sentimento consumidor, mais ligado a luxuria a consumação.
E esse sofrimento a descrição exata e perfeita de nosso vicio de completude. Esse desejo egoísta de auto-satisfação que procuramos diligentemente no outro, procurando respostas aos nossos anseios psico-maternais no colo do companheiro(a). esse é egoísmo que transforma a paixão em passio, e o que poderia ser uma relação duradoura em uma chama única que se extingue após o ápice.
Ligue a tv e veja quantos programas de auto ajuda você consegue encontrar, de uma boa checada na lista dos best selers da atualidade e veja quantos tem a mesma temática altruísta de elevar o moral, de nos auxiliar na busca dessa lacuna existencialista, ou seja manuais enrustidos de como alcançar o paraíso perdido. Usei o termo síndrome, mas sendo honesto comigo mesmo, em alguns casos é uma paranóia, um vicio solitário, masturbatoriamente falando.
O casal tão intenso em suas promessas, ainda vão se dar conta de o quão difícil é curar-se e curar o ser amado desse parasitismo que se chama completude.
Amar e responsabilidade demais para seres tão pouco evoluídos como nossa raça, o amor biblicamente "O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." I Coríntios 13:4-7
No grego antigo, havia três palavras que significavam amor: "eros", "phileo" e "ágape". Eles usavam a palavra de acordo com o tipo de amor a que estavam se referindo.A palavra "eros" se referia ao amor sexual e, como sabemos, deve existir dentro do casamento.A 2a palavra "phileo" significava o amor que existia entre pais e filhos, e entre irmãos. Este tipo de amor, que se desenvolve com o tempo, também deve existir no casamento.Por último, temos o amor "ágape" que é o mais profundo e o mais sublime de todos. Este amor sempre caracterizou Deus.
Amar é algo divino, que a nos humanos só cabe conhecer quando de bom vencemos a síndrome do paraíso perdido. Amar é aceitar o fato, que esse vicio besta de completude so nos priva da oportunidade de amadurecemos como indivíduos e deixarmos de literalmente sermos uns bebês chorões

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